A adoção da inteligência artificial (IA) no Brasil tem o potencial de acrescentar até US$ 429 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) nacional nos próximos treze anos, segundo estudo recente da consultoria Accenture. Contudo, para que esse impacto seja plenamente alcançado, é fundamental que haja investimentos consistentes em capacitação e requalificação da mão de obra, acompanhando a transformação tecnológica que vem se acelerando em diversos setores da economia.
O relatório da Accenture analisou os efeitos da IA nas cinco maiores economias da América Latina, incluindo Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México, e projetou um incremento total de até US$ 1 trilhão no PIB regional. Para o Brasil, o estudo destaca que o potencial de crescimento está diretamente relacionado à forma como o setor privado e o governo implementarão processos de reorganização do trabalho e formação dos profissionais.
Em seu estudo, a consultoria elaborou três cenários distintos de adoção da IA generativa, simulando diferentes velocidades de implementação e níveis de capacitação profissional. O cenário mais otimista, chamado de “centrado em pessoas”, prevê uma adoção gradual da tecnologia ao longo de uma década, com investimentos sólidos em treinamento, o que resultaria em maiores ganhos econômicos e menor impacto negativo no emprego.
O cenário “agressivo” projeta uma rápida implementação da IA em cinco anos, porém sem o foco na qualificação da mão de obra, o que traria ganhos menores e maior aumento do desemprego. Já o modelo “cauteloso” prevê uma adoção mais lenta e limitada da tecnologia, com ganhos econômicos menos expressivos, mas também menos impacto social.
Para o líder de Dados e IA da Accenture na América Latina, Daniel Lázaro, o Brasil enfrenta um desafio importante: “não adianta adquirir as melhores tecnologias sem preparar as pessoas e estruturar processos para que o país realmente aproveite o potencial da inteligência artificial”. Segundo ele, o desenvolvimento da qualificação é o fator-chave para transformar investimentos em resultados concretos para a economia.
No contexto global, a América Latina ainda representa apenas 3% dos investimentos privados em inteligência artificial, e o Brasil, apesar de ser a maior economia da região, está em 11º lugar no ranking mundial de aporte privado em IA. A indústria financeira lidera os investimentos no país, enquanto setores com grande volume de dados e atividades digitais, como seguros e software, apresentam maior potencial de ganhos de produtividade.
O estudo aponta que até 39% das horas trabalhadas no Brasil podem ser afetadas pela inteligência artificial até 2038, sendo 22% relacionadas à automação e 17% à otimização de processos. Setores intensivos em trabalho físico, como mineração e construção, tendem a experimentar menores impactos no curto prazo, enquanto mercados financeiros e de consumo terão mudanças mais significativas.
Em síntese, a inteligência artificial pode revolucionar a produtividade no Brasil e impulsionar o PIB em centenas de bilhões de dólares, mas o alcance desses benefícios depende de políticas públicas e privadas que priorizem o investimento em qualificação da mão de obra. O futuro da IA no Brasil está diretamente ligado à capacidade de preparar profissionais para lidar com a transformação digital e aproveitar as oportunidades que essa tecnologia oferece.
Autor: Katryna Rexyza