Um ano após início da vacinação, benefícios vão além da saúde e chegam à economia.
O chefe de cozinha Tony Rafael Rodrigues Lima resistiu à pandemia. Nunca teve Covid e escapou também do desemprego.
“Nós éramos 12 na cozinha, só restou eu… A outra onda (de Covid) que veio, aí teve que fechar de novo, aí eu fiquei com medo”, relembra Tony.
Logo depois da vacina chegar, grandes cidades do país voltavam à fase mais restritiva. Na visão do mundo, a vacina chegou atrasada ao Brasil.
Os relatórios do Fundo Monetário Internacional (FMI) projetavam uma recuperação mais lenta. O Produto Interno Bruto (PIB) vinha da maior retração em 24 anos (-4,1%), e os dados confirmavam o aumento da desigualdade, da pobreza. Era a economia à espera de uma dose de confiança.
“Tenho total certeza que a vacinação deu a oportunidade de a gente ter uma esperança de retomar a uma certa normalidade, ainda que seguindo todos os protocolos e necessitando de cuidados. Mas foi uma sobrevida, sem sombra de dúvidas”, afirma o empresário Gustavo Iglesias.
Os negócios que dependem do contato com o público foram os que mais esperaram. Mas não foi só o setor de serviços. A indústria, o comércio e até o mercado financeiro, no mundo todo, tiveram os resultados diretamente influenciados pelo avanço da vacinação. Da vacina depende o emprego, a renda, a saída da crise. Por um motivo fácil de a gente entender: por assegurar a abertura da economia, enquanto o vírus ainda circula.
“Nenhuma empresa, quer para produzir, quer para distribuir, quer para investir, está hoje bloqueada ou tem dificuldades desde que o programa de vacinação dos seus funcionários tenha avançado como avançou para incluir dose de reforço e todos os cuidados adicionais. Nós voltamos a uma certa normalidade com atenção e com cuidados. Nós voltamos aos problemas normais, digamos assim, da economia. A existência de inflação, ao aumento da taxa de juros”, destaca o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados.
Mas nos modelos econômicos, a projeção de futuro fica imprecisa com a variável do vírus.
“Eventualmente pode surgir uma variante que tenha uma mutação importante e essa mutação seja responsável por maior resistência em relação à proteção gerada pelas vacinas. Então o grande desafio é a gente tentar vacinar o mais rápido possível a população mundial para evitar o surgimento de novas variantes. Porque, se surgir uma variante que a vacina não seja mais protetora, mais efetiva, nós teremos que vacinar toda a população mundial novamente”, comenta Júlio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Vale para gente a lei dos mercados: em tempos incertos, investir em segurança.
“Agora que eu já tenho a terceira dose, eu já tenho um pouco mais de confiança principalmente sabendo que os estabelecimentos estão pedindo também a comprovação”, relata a gerente de processos Karen Fernandes enquanto mostra a carteira de vacinação que carrega dentro da bolsa.
“Você vê a rotina de todo mundo voltando ao trabalho, a economia tentando aquecer e, com certeza, é uma coisa que dá um ânimo para gente voltar a sonhar, voltar a buscar investir nas nossas metas e objetivos”, diz a gerente de marketing Rafaela Moura Sandes.
Após três anos impactados pela pandemia, é a vacina que pode mudar o final.
“Pode e deve mudar. Não de um modo desatento, descuidado, imaginando que já temos todo o caminho aberto. A esperança ativa, aquela que vai buscar, ela é absolutamente necessária. Não significa o desconhecimento de todas as perdas vividas, mas de modo algum também nós podemos deixar de honrar as pessoas que nos deixaram fazendo com que a vida tenha assim a sua expressividade. Portanto, aquilo que faz com que a gente siga adiante sem distrair, mas também sem desistir”, aconselha o professor Mário Sérgio Cortella.